A resposta do Vale à crise global é uma rede de postos de energia elétrica

Shai Agassi tem um plano para revolucionar a indústria automobilística. Aos 40 anos, o israelense quer reinventar o modelo de negócios do combustível lançando carros elétricos. Não é o único. Mas, se o modelo de sua empresa emplacar, ele terá a solução mais barata. Não à toa, a Better Place, empresa de Agassi, fica em Palo Alto, coração do Vale do Silício.

O problema dos carros elétricos, ele sugere, é o preço das baterias. Um Tesla, que já é vendido por aqui, não sai por menos de US$ 100 mil. Funciona que é uma beleza, roda silencioso, tem linhas arrojadas e é bem mais barato ligá-lo na tomada à noite do que abastecer um automóvel equivalente com gasolina. Também é mais limpo, se a eletricidade vier de usinas que não utilizem combustível fóssil.

Agassi propõe uma rede de postos de bateria. O sujeito compra o carro, mas não suas baterias. Com a tecnologia atual, um automóvel elétrico tem autonomia para andar 160 quilômetros sem nova carga. Quando estiver próximo do fim, ele se aproximaria de um posto Better Place, deixaria a bateria, poria uma nova, pagaria pela energia e seguiria em frente.

Para que tudo funcione, as baterias têm de ser padronizadas e Agassi não tem problemas com isso. Seu formato e tipo de carga seguiriam um padrão aberto que permitiria a outros postos de recarga se lançarem no mercado como concorrentes.
Delírio? Talvez. Mas a Renault já desenvolveu um protótipo, há um Mégane que às vezes sai pelas ruas de Paris e é movido a baterias no padrão aberto de Agassi. A Nissan também, com o eRogue.

Uma das condições da Better Place é de que a energia seja realmente limpa. As estações de recarga realimentariam suas baterias durante a noite, usando conexões com o grid elétrico que venham especificamente de fontes alternativas. Em Israel, será energia solar. Na Dinamarca, Austrália e Califórnia, a eletricidade nascerá das fazendas de moinhos de vento espalhadas por toda parte.

O projeto é um dos favoritos do presidente israelense, Shimon Peres, e será neste país que a empresa de Agassi, em conjunto com a Renault-Nissan, montará sua primeira rede de postos.

Há muitos motivos para se fazer os testes lá. É um país pequeno. A maioria dos israelenses dirige menos de 70 quilômetros por dia. Há muito sol e, diferentemente dos outros países do Oriente Médio, nenhum petróleo. Israel adoraria não depender do petróleo árabe.

Na Tesla, outra empresa do Vale que trabalha em carros elétricos, muitos não levam fé no plano. Acham que o público não comprará a ideia de um carro sem as baterias e que tudo soa um pouco complicado demais.

Mas o ceticismo não resolve a principal questão apontada por Agassi: o preço da bateria realmente encarece muito o carro. E o problema do Aquecimento Global não vai embora tão cedo.

Há muita vontade, no Vale do Silício, de ir além dos computadores e internet. O Vale quer mostrar que seu método de inovação se aplica a qualquer indústria – automóveis são apenas o começo.

E o bom humor está de volta. O Vale está florido. As árvores, que durante o inverno perderam suas folhas, estão verdes novamente e as flores têm todas as cores do mundo. Já não faz tanto frio, já não chove mais todo dia e às vezes até dá para sair de casa de bermuda sem congelar. (Os americanos fazem isso mesmo em dezembro, acham que 10°C é calor.)

Será uma primavera lenta na espera do próximo inverno, quando a economia deve mostrar os primeiros sinais de aquecimento.

O colunista passa um ano em Palo Alto, na Califórnia

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