A transnacional Monsanto impede distribuição de cartilha sobre agroecologia.“A contaminação transgênica.”


"O agricultor orgânico não cultiva transgênicos porque não quer colocar em risco a diversidade de variedades que existem na natureza. “A contaminação transgênica.” Download da Cartilha

Uma cartilha produzida pelo Ministério da Agricultura sobre agroecologia teve sua distribuição impedida. A cartilha "O Olho do Consumidor", que conta com ilustrações de Ziraldo, foi lançada para divulgar a criação do "Selo do SISORG" (Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica) que pretende padronizar, identificar e valorizar produtos orgânicos, orientando o consumidor.

O livreto, que teve tiragem de 620 mil cópias, foi objeto de uma liminar de mandado de segurança, fruto de ação movida pela transnacional Monsanto, que impediu sua distribuição. Setores do Ministério ligados ao agronegócio também não ficaram contentes com as informações contidas na cartilha. O arquivo foi inclusive retirado do site do Ministério.

A proibição se deu por conta do item 5 da página 7 (imagem ao lado), o­nde se lê:

"O agricultor orgânico não cultiva transgênicos porque não quer colocar em risco a diversidade de variedades que existem na natureza. Transgênicos são plantas e animais o­nde o homem coloca genes tomados de outras espécies".

Em autêntica desobediência civil e resistência pacífica à medida de força, o MST se junta a todos aqueles que estão distribuindo eletrônicamente a cartilha. Se você concorda com esta idéia, continue a distribuição para seus amigos e conhecidos.

Desde 2006, Jean Marc von der Weid* denuncia o problema da contaminação transgênica,

A contaminação da produção de milho crioulo ou convencional no Brasil levaria todos os agricultores a terem que pagar royalties para empresas como Bayer, Monsanto e Syngenta.

O milho transgênico é um perigo ainda maior do que a soja RR da Monsanto. Já vimos o que ocorreu no Rio Grande do Sul com a soja transgênica.

Ela contaminou tanto cultivos convencionais como orgânicos. Agricultores que nunca plantaram soja RR foram obrigados a pagar royalties para a Monsanto como se tivessem comprado sementes da empresa. Ao risco de pagar multas além dos royalties os agricultores foram sendo constrangidos a adotar as sementes transgênicas. Hoje, muitos não conseguem comprar sementes não-transgênicas.

Ao contrário da soja, no caso do milho o risco é muito maior porque esta planta cruza com muita facilidade. Devido a este risco de forte contaminação que levaria à desaparição de centenas de variedades crioulas e de parentes silvestres do milho é que o México proibiu o cultivo do milho transgênico no país, embora tenha permitido outros cultivos transgênicos.

A contaminação da produção de milho crioulo ou convencional no Brasil levaria todos os agricultores a terem que pagar royalties para a Bayer, já que o seu pedido de liberação envolve direitos inclusive sobre o milho “derivado de cruzamentos de linhagens e populações não transgênicas de milho com linhagens portadoras do evento T25 (ou seja o milho transgênico da Bayer)”.

O cultivo clandestino de milho transgênico já é uma ameaça grave para a agricultura brasileira e para a biossegurança do País. Ele vem ocorrendo por contrabando de sementes sem que as autoridades do Ministério da Agricultura tomem providências. Trata-se da mesma tática de deixar contaminar para depois liberar, a exemplo da soja e do algodão. A gravidade da situação atual no caso do milho não pode ser minimizada.

O mais grave é que a argumentação apresentada pela Bayer à CTNBio, além de frágil e incompleta, sequer tem sustentação científica para várias de suas afirmações.

Por outro lado, inúmeros artigos publicados em revistas científicas de todo o mundo vêm apontando para os muitos riscos e para a mais que precária base científica das afirmações das empresas.

O mínimo que a CTNBio deveria fazer seria uma revisão a sério desta literatura, pois não apenas ela contesta a segurança de produtos que irão para a mesa de todos os brasileiros como aponta para o fato de que os estudos das empresas não passam pelo crivo crítico de outros cientistas independentes, como acontece para publicação de artigos em revistas científicas.

É preciso cobrar do Conselho Nacional de Biossegurança, composto por 11 Ministros de Estado e que tem poderes acima da CTNBio, que se reúna para impedir uma liberação comercial de milho transgênico por seus riscos para a economia e soberania nacionais mesmo que a CTNBio conceda a liberação comercial ao milho da Bayer ou de qualquer outra empresa.

Se prevalecer a irresponsabilidade no trato da biossegurança, as outras liberações seguirão o mesmo padrão. Se prevalecer a estratégia de permitir cultivos ilegais, será estabelecida a regra de que vale tudo para garantir os interesses das empresas.

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*Jean Marc von der Weid é economista e coordenador de políticas públicas da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA).

Publicado em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=42949

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